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Claudicação arterial

dor pernas claudicação - doença arterial periférica
O que é a claudicação arterial de membros?

A claudicação é a dor que acontece num membro, especialmente ao caminhar e geralmente após um certo esforço mais ou menos de mesma intensidade. Essa dor é limitante e, quando aparece, faz com que a pessoa obrigatoriamente necessite interromper o exercício.

O que causa a claudicação arterial dos membros inferiores?

O que causa a dor nas pernas ao caminhar (claudicação) é o entupimento das artérias da perna. Geralmente esse entupimento é causado por placas de gordura chamado de aterosclerose, num contexto da doença chamada: doença arterial obstrutiva periférica (DAP ou DAOP).

A claudicação intermitente geralmente ocorre após esforço físico?

Sim, a dor nas pernas acontece geralmente após um mesmo esforço. Por exemplo, se o paciente tem dor nas panturrilhas ao caminhar 100 metros, sempre terá essa dor mais ou menos na mesma distância. A dor é de tal intensidade que faz com que o indivíduo interrompa o exercício após o início da dor. Geralmente melhora os sintomas após o repouso.

Quais são os sintomas?

O sintoma mais comum é a dor na panturrilha ao caminhar. A panturrilha é o local mais frequente mas também pode ser no quadril, glúteo, coxas e pés.

Geralmente os pacientes têm dor ao caminhar sempre a mesma distância. É o que chamamos de claudicação intermitente. Os pacientes caminham até uma distância em que começam a ter dor. Após mais alguns passos, a dor fica insuportável, e há a necessidade de parar. Após descansar alguns minutos, a dor passa e há a possibilidade de andar a mesma distância novamente. Apesar da dor pode acontecer nas duas pernas, geralmente ela é mais intensa numa perna que na outra.

Podemos também ter uma palidez do pé acometido, também uma frialdade do pé ao elevá-lo. Pacientes em casos mais graves podem ter perda de pelos no pé e um crescimento lento ou nenhum das unhas.

A dor pode ser confundida com outra doença ou situação?

Sim, a dor pode ser confundida com a dor de inúmeras outras doenças. A mais comum dela é a dor por causa muscular (ou dor miofascial). Outras causas podem simular a claudicação como a osteoartrite (artrose), osteoporose, varizes, fibromialgia, dor de coluna, neuropatia periférica e etc.

Como é possível diferenciar a claudicação arterial de câimbras ou fisgadas?

A principal característica é que a dor por claudicação acontecer após algum tempo ou intensidade da atividade física. Geralmente não acontece ao se levantar ou em poucos passos. A claudicação não é uma dor pontual e não cessa espontaneamente. Além disso, pacientes com claudicação podem ter o pé acometido mais frio e pálido. Especialmente após deixar a perna alguns minutos elevada.

Como é feito o diagnóstico?

O Diagnóstico é feito através da história clínica e do exame físico. O médico examinando o paciente pode identificar se há diminuição ou ausência de pulsos do lado comprometido. Após isso, o médico pode medir a pressão nos tornozelos para confirmar a diminuição da circulação naquele lado. Exames como o ultrassom Doppler, tomografia e ressonância ajudam a avaliar em que ponto a artéria está ocluída e para a programação da cirurgia.

Quais são os fatores de risco?

São eles:

  1. Tabagismo
  2. Diabetes Mellitus
  3. Colesterol aumentado
  4. Pressão alta
  5. Obesidade
  6. Sedentarismo
  7. História da família de doença aterosclerótica
  8. Sexo masculino
Alguma doença preexistente pode provocar a claudicação arterial?

Sim, pacientes que apresentaram embolia ou trombose arterial na perna, podem ficar com a claudicação como sequela. Outras doenças menos frequentemente podem acabar com uma claudicação: por exemplo: claudicação do ciclista, aneurisma de poplítea, aprisionamento da artéria poplítea, cisto adventicial da artéria poplítea, etc.

A claudicação arterial dos membros pode trazer limitações no estilo de vida da pessoa?

Sim. Os pacientes queixam que, muitas vezes, têm que desistir de fazer seu esporte preferido. Ou até mesmo de ter que mudar sua rotina, seu dia a dia.  Os pacientes ficam refém de poder caminhar maiores distâncias. Dessa forma, pequenas atitudes como “ir à padaria” se tornam muito desgastantes pela necessidade de ter que parar muitas vezes a cada aparecimento da dor.

Pode atingir outras partes do corpo além dos membros inferiores?

Sim. Embora menos frequente, a claudicação pode ocorrer nos braços. Ela se comporta de maneira bem parecida com a claudicação das pernas. Geralmente a dor é unilateral e acontece com o mesmo esforço.

Qual a idade mais propensa a ter a claudicação arterial dos membros inferiores?

A idade mais frequente é após os 60 anos de idade. Mas pode acontecer em pacientes mais jovens, especialmente em diabéticos, renais crônicos e tabagistas.

Pode provocar a amputação do membro? Em quais casos?

Pacientes com claudicação e que estão estáveis na distância de dor, têm um risco pequeno de 1% ao ano de amputações. Pacientes que apresentam dor ao repouso e em pacientes com feridas, por sua vez, apresentam um risco muito maior (15-20% ao ano). Por isso a importância de se evitar machucar o pé em pacientes com claudicação.

Como é feito o tratamento?

O tratamento inicial é feito de quatro maneiras:

  1. Evitar e tratar todos os fatores de risco. Tratamento do diabetes, suspensão do tabagismo, controle da pressão.
  2. Introdução de medicamentos para melhorar a distância ao caminhar e que impedem a progressão da doença. Existem medicamentos que melhoram a distância ao caminhar e evitam complicações secundárias.
  3. Cuidados para evitar a abertura de lesões nos pés. Proteção para os pés especialmente em pacientes diabéticos que apresentam menor sensibilidade.
  4. Exercícios para desenvolver a circulação colateral. Recomenda-se caminhadas de 40 minutos a 1 hora por dia. Por pelo menos 4x por semana. Os pacientes devem caminhar até a dor ficar moderada. Depois disso, descansar e voltar a caminhar normalmente.

A cirurgia é indicada em casos de pacientes com dor ao caminhar que limita muito o dia a dia (e depois da falha do tratamento). E em pacientes com risco de perda do membro como naqueles com dor em repouso e em pacientes com ferida.

Podemos operar os pacientes de duas maneiras: por via aberta ou endovascular. A via aberta é o uso de substitutos alternativos (veia safena ou próteses artificiais) para ultrapassar as áreas de oclusão. A maneira endovascular é o tratamento através de balões e stents. Usamos essa via com acesso através de pequenas incisões, o chamado “cateterismo”. A escolha de um método ou de outro é feita através de um conjunto de fatores que envolvem: o risco da cirurgia, risco do paciente (risco de infarto, AVC, etc), presença de uma veia adequada para usar como substituto, a extensão da lesão, etc.

É uma dor mais comum em atletas de alto rendimento, ou qualquer pessoa pode ter essa dor?

Pode sim acontecer em pacientes de alto rendimento. Como é o caso da claudicação do ciclista ou “endofibrose da artéria ilíaca externa”. Essa condição acontece nos atletas devido ao movimento repetitivo de flexão e extensão da coxa sobre um musculo psoas mais hipertrofiado. Esse movimento leva a inflamação crônica e estreitamento da artéria ilíaca.

Em quais tipos de exercícios é mais comum observar os sintomas?

Especialmente nos exercícios de caminhada em velocidade mais acentuadas e nas subidas.

Qual a importância da avaliação médica para atletas e para as pessoas que praticam atividade física diariamente?

Acredita-se que a fibrose das artérias por esforço repetitivo é pouco diagnosticada. Acredita-se que, em até 20% dos ciclistas, há algum tipo de estreitamento da artéria.  Com certeza uma consulta com o médico vascular pode prevenir uma complicação maior se diagnosticada essa condição mais precocemente.

Existe algum exercício físico que exige mais cuidado? Se sim, por que?

Os exercícios repetitivos são os mais propensos a endofibrose e consequente claudicação. Especialmente o ciclismo.

Quais são os cuidados e orientações para evitar a claudicação arterial?

Em primeiro lugar, se deve cuidar de tratar imediatamente os fatores de risco associado a doença arterial periférica, a aterosclerose. Como o diabetes, a obesidade, o tabagismo, a hipertensão e o colesterol. Também é necessário o cuidado na manutenção da atividade física de rotina.

Algum estudo sobre o número de pessoas que sofrem com a doença?

A doença arterial periférica tem uma frequência inferior a 2% nas pessoas abaixo dos 50 anos, aumentando para mais de 5% a partir dos 70 anos. Acredita-se que a forma mais grave ocorre em até 10% dessa população.

A claudicação pode limitar a capacidade da pessoa de participar de atividades sociais e de lazer?

Sem dúvida! Essa dor no membro pode afetar a qualidade de vida e limitar as atividades físicas como um todo. Por isso tratamos a doença logo quando fazemos o diagnóstico e levamos em consideração essa limitação para considerar a realização de uma cirurgia.

Dr Rodrigo Bruno Biagioni

Membro titular da SBACV – Comissão de Doença arterial periférica

Doutorado Einstein e Mestrado UNIFESP

Referências:

Bilman, Victor et al. Endofibrose da artéria ilíaca externa em uma ciclista de resistência de elite. Jornal Vascular Brasileiro [online]. 2021, v. 20 [Acessado 23 Junho 2022] , e20200122. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1677-5449.200122>. Epub 28 Abr 2021. ISSN 1677-7301. https://doi.org/10.1590/1677-5449.200122.

https://www.scielo.br/j/jvb/a/btBWzPBR54SPjLPdD7RYkSq/abstract/?lang=pt

Lane R, Harwood A, Watson L, Leng GC. Exercise for intermittent claudication. Cochrane Database of Systematic Reviews 2017, Issue 12. Art. No.: CD000990. DOI: 10.1002/14651858.CD000990.pub4

https://www.cochrane.org/pt/CD000990/PVD_exercicio-fisico-para-claudicacao-intermitente

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